quarta-feira, 2 de outubro de 2024

“Graça e Torá: A Harmonia nos Ensinamentos de Rav Shaul”

 “Graça e Torá: A Harmonia nos Ensinamentos de Rav Shaul”

Por: Ezrah Ben Or — Moreh Telles

O conceito de que Rav Shaul (Paulo) teria fundado o cristianismo e ensinado contra a Torá é uma reserva amplamente difundida tanto no contexto histórico quanto teológico.

 Muitos acabam interpretando suas palavras fora do contexto cultural e religioso da época, levando a uma compreensão equivocada de sua mensagem.

Para abordar esse ponto, é fundamental compreender a posição de Paulo como judeu fariseu que jamais abandonou a prática da Torá. 

Em Atos 23:6, ele se identifica claramente como fariseu, e em Atos 24:14 afirma: 

“Confesso-te que, segundo o Caminho, a que chamam seita, assim sirvo ao D'us de nossos pais, crendo em todas as coisas que estão conforme a Torá e nos escritos dos profetas.”

 

1. Contexto Histórico e Teológico das Cartas de Paulo

Rav Shaul escreveu suas cartas em um momento de intensa discussão teológica e social entre judeus e gentios. Muitos cidadãos da época acreditavam que a salvação só poderia ser alcançada pela observância plena da Torá e que os gentios deveriam se converter ao judaísmo para serem aceitos como membros plenos do povo de D'us. 

Paulo, por outro lado, argumentou que a justificação diante de D'us se dava pela fé em Yeshua HaMashiach, e não apenas pelas obras da Torá.

No entanto, ele nunca ensinou que a Torá deveria ser abolida ou que os mandamentos não tinham mais validade. Em vez disso, Paulo ressaltou a necessidade de que os gentios observassem os princípios da Torá conforme revelados no Concílio de Jerusalém (Atos 15) e explicou que a Torá é espiritual (Romanos 7:14), devendo ser cumprida em espírito e verdade.

2. A Distorção dos Ensinamentos de Paulo

O apóstolo Pedro (Shimon Kefá) já advertiu sobre as perturbações dos ensinamentos de Paulo: “... e considerai que a longanimidade do nosso Senhor é salvação, como também o nosso irmão amado Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada; ao falar sobre estes assuntos, como de fato costuma fazer em todas as suas cartas, nas quais há pontos difíceis de entender, que os indoutos e inconstantes torcem, como também o fazem com as demais Escrituras, para a própria destruição deles” (2 Pedro 3:15-16).

Pedro reconhecia a complexidade dos escritos paulinos e a tendência das pessoas de interpretar erroneamente suas palavras, levando a uma prática antinomista (contra a Torá), que Paulo, de fato, não defendia.

 A antinomia se tornaria um problema sério para as comunidades messiânicas e judaicas nos séculos seguintes, contribuindo para o desenvolvimento do cristianismo gentílico desvinculado da Torá.

3. O Ensino de Paulo sobre a Graça e a Torá

Paulo afirma claramente em Romanos 3:8 e 6:1-2 que é caluniosamente acusado de ensinar que devemos pecar para que a graça de D'us se manifeste ainda mais. E ele responde categoricamente: “De modo nenhum!”.

 Essa expressão é uma exclusão enfática à ideia de que a graça permite uma vida de pecado, ou seja, uma vida sem observância dos mandamentos.

Além disso, em Romanos 6:15, Paulo reforça a mesma ideia: 

“O que então? Pecaremos porque não estamos sob a Torá, mas sob a graça? De modo nenhum!”.

 Aqui, ele deixa claro que estar “sob a graça” não é uma permissão para viver fora dos padrões estabelecidos pela Torá. Pelo contrário, a graça de D'us nos capacita a viver uma vida de retidão, conforme revelado nos princípios da Torá.

4. A Relação entre Graça e Torá

Paulo entendeu que a Torá e a graça não são excludentes, mas complementares. A graça é o favor imerecido de D'us que nos leva à salvação, enquanto a Torá nos mostra o padrão de santidade que D'us deseja para Seu povo. 

Estar sob a graça significa ser redimido pela fé em Yeshua, mas isso não invalida a necessidade de viver uma vida justa, como afirma em Romanos 3:31: 

“Anulamos, então, a Torá pela fé? De maneira nenhuma! Antes, confirmamos a Torá.”

5. Conclusão

Portanto, a ideia de que Paulo fundou o cristianismo e ensinado contra a Torá é baseada em uma compreensão equivocada de suas cartas e no contexto polêmico de suas investigações.

 Ele nunca foi contra a Torá, mas sim contra a visão de que a observância da Torá era o meio para a justificação diante de D'us. Ele defende a observância dos mandamentos como fruto de uma vida redimida pela fé em Yeshua, e não como meio de salvação.

Com isso em mente, podemos ver que Rav Shaul permanece fiel à Torá e aos ensinamentos de Yeshua, combatendo não só os falsos conceitos de que a Torá era desnecessária, mas também as acusações infundadas de que ele ensinava uma vida sem a observância da Torá.

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