quinta-feira, 3 de outubro de 2024

Derrubando a Parede de Separação: A Inclusão dos Gentios e a Imposição da Torá – Reflexão Judaico-Messiânica

 Derrubando a Parede de Separação: A Inclusão dos Gentios e a Imposição da Torá – Reflexão Judaico-Messiânica

Por: Ezrah Ben Or — Moreh Telles 


No contexto das comunidades judaico-messiânicas, há uma discussão importante e por vezes polêmica que remonta aos tempos do Segundo Templo: a inclusão dos gentios na comunidade de Judaica Messiânica.

 No entanto, a questão não é apenas sobre inclusão, mas sobre como essa integração se dá. Em Efésios 2:14, o emissário Shaul (Paulo) faz uma referência direta ao que ele chama de “parede de separação” que havia sido derrubada. O que exatamente isso significa?

Para entender melhor, é necessário revisitar o cenário do Templo de Jerusalém. Ali, existia uma divisão clara e concreta chamada parede de separação – um muro que impedia os gentios de entrarem nos pátios mais internos e sagrados. 


O Soreg

Essa estrutura era chamada de Soreg, uma cerca de pedra com inscrições em grego e latim, advertindo que qualquer estrangeiro que passasse daquele ponto estaria sujeito à morte. Tal divisão física simbolizava a exclusão dos não-judeus da plena comunhão com o povo de D'us.

Rav Shaul utiliza essa imagem simbólica da parede de separação para descrever como o judaísmo da época havia se tornado exclusivista, dificultando o acesso dos gentios às promessas de D'us. 

Em contraste, Isaías 56:6-7 fala de uma era onde "os filhos do estrangeiro que se achegam a D'us, para o servirem e amarem Seu nome", são plenamente incluídos e aceitos: "a minha casa será chamada casa de oração para todos os povos". Isso demonstra que o desejo de D'us sempre foi a inclusão, não a exclusão.

Contudo, mesmo após o rompimento dessa barreira simbólica, vemos atualmente nas comunidades judaico-messiânicas um fenômeno inverso ao exclusivismo. Muitos procuram integrar os gentios de maneira a exigir deles um nível de observância da Torá igual ao de um judeu natural, sem considerar as diferenças históricas e culturais.

 É importante entender que a Torá é um pacto identitário e funcional para o povo judeu. Isso não significa que o gentio não possa ou não deva observar partes da Torá, mas que sua observância deve ser feita em outro contexto e perspectiva.

Judaísmo e Gentios: Contextualização e Sensibilidade

O Talmud (Sanhedrin 59a)nos ensina que “um gentio que estuda a Torá é comparável ao Sumo Sacerdote”, mas a mesma passagem salienta que existem porções da Torá que não são requeridas aos gentios.

 O próprio Yeshua (Jesus) destacou em várias ocasiões que o jugo da Torá deveria ser leve e prazeroso, jamais um fardo esmagador. O apóstolo Pedro, em Atos 15:10, questiona: “Por que, pois, tentais a D'us, pondo sobre a cerviz dos discípulos um jugo que nem nossos pais puderam suportar?”

Essa percepção do jugo da Torá deve levar as comunidades judaico-messiânicas a refletirem sobre o verdadeiro propósito da observância: não a obrigação cega, mas a conexão espiritual e a formação de um caráter divino. 

Impor ao gentio a Torá como obrigação total, sem a devida preparação e sem um contexto de herança cultural, é construir novamente a “parede de separação” que Shaul já havia declarado derrubada.

O Equilíbrio entre Observância e Identidade

Quando uma comunidade judaico-messiânica insiste para que o gentio observe toda a Torá, sem considerar a diferença entre um ben Noach (filho de Noé) e um ger tzedeq (estrangeiro justo), há o risco de não só afastar aqueles que sinceramente querem se achegar, mas também de desvirtuar o propósito original da Torá. 

É como pegar um recém-nascido e tentar fazê-lo correr uma maratona. Assim como Timóteo, discípulo de Shaul, foi “treinado nas Sagradas Escrituras desde a infância” (2 Timóteo 3:15), o judeu tem sua formação espiritual desde cedo, o que lhe dá a base necessária para uma observância plena. Um gentio recém-chegado, por outro lado, precisa de tempo, ensino gradual e espaço para crescer.

Conclusão: Inclusão com Respeito às Diferenças

As comunidades judaico-messiânicas têm um chamado especial para serem uma ponte entre judeus e gentios, refletindo a verdade de que, em Yeshua, 

“não há mais judeu nem grego, escravo nem livre, homem nem mulher” (Gálatas 3:28). 

No entanto, isso não significa uniformidade, na prática, mas sim unidade no propósito. O gentio que se achega não deve ser visto como um judeu de segunda classe nem forçado a assumir um jugo de mandamentos que não lhe cabe, mas deve ser incentivado a aprender, crescer e, gradualmente, encontrar seu próprio caminho de observância.

Assim como Isaías profetizou, a casa de D'us será chamada “casa de oração para todos os povos”. Que as comunidades judaico-messiânicas possam ser esse lugar de acolhimento, ensinando a Torá com amor, equilíbrio e respeito às diferenças culturais e identitárias, construindo pontes, e não mais paredes de separação.

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