A VISÃO KABALISTICA DE KI TAVÔ
Por: Ezrah Ben Or — Moreh Telles
Esta porção contém elementos fundamentais para a compreensão da jornada espiritual de Israel e, de forma surpreendente, nos conecta com a promessa messiânica de redenção.
As Maldições e as Bênçãos: Misticismo nas Palavras
Uma das seções mais misteriosas e profundas de Ki Tavô são as maldições (Devarim 28:15-68), que muitas vezes são interpretadas apenas em seu nível literal.
No entanto, do ponto de vista cabalístico, cada uma dessas maldições pode ser vista como uma consequência espiritual de desconexão com as esferas superiores da Sefirot.
A palavra hebraica "קְלָלָה" (kelalá), que significa maldição, está relacionada à raiz "kalal", que significa "ser leve" ou "desprezado".
Na Cabalá, uma kelalá não é apenas uma punição física, mas sim um estado espiritual de leveza ou falta de substância.
Quando alguém está sob uma kelalá, significa que sua conexão com a Shechiná (a presença divina) se tornou "leve", como se ele tivesse perdido peso espiritual, tornando-se desconectado das bênçãos celestiais.
Assim, o estudo místico dessas maldições nos revela que elas são, na verdade, sinais de uma desconexão do fluxo de energia espiritual que vem de D'us.
O Zohar comenta que, quando Israel segue os mandamentos da Torá, recebe a energia das esferas superiores diretamente, e essa energia desce como bênçãos. Porém, ao quebrar a aliança, as bênçãos são interrompidas, deixando espaço para as forças negativas se manifestarem.
2. A Palavra "סְגֻלָּה" (Segulá): Israel como Povo Escolhido
Em Devarim 26:18, D’us declara Israel como um povo "segulá" (סְגֻלָּה), traduzido geralmente como "povo especial" ou "tesouro peculiar". No entanto, o termo hebraico segulá tem conotações místicas que vão além dessa tradução superficial.
No hebraico bíblico e no uso cabalístico, segulá também carrega o sentido de "propriedade mágica" ou "qualidade especial". Na Cabalá, cada objeto ou entidade tem uma segulá, ou seja, uma essência interna que conecta o físico ao espiritual.
Israel, portanto, não é apenas um povo especial no sentido sociopolítico, mas tem uma função cósmica específica como canal para trazer a luz divina ao mundo.
O Zohar explica que a função de Israel é servir como um conduto para a energia espiritual do Criador, e essa qualidade de segulá permite que Israel desempenhe esse papel único.
Portanto, a escolha de Israel não é uma escolha arbitrária, mas baseada em sua capacidade inata de se conectar com os mundos espirituais, e essa função está codificada na palavra segulá.
3. O Juramento em Nome de D'us: A Importância do Nome Divino
No versículo 28:58, há uma referência ao nome de D'us, que nas traduções aparece como "Nome Glorioso e Temível". O hebraico usa os termos "שֵׁם הַנִּכְבָּד וְהַנּוֹרָא" (Shem ha-Nichbad v’ha-Nora). No entanto, a profundidade deste versículo é muitas vezes perdida nas traduções.
O termo Nichbad vem da raiz "kavod" (כָּבוֹד), que significa "glória" ou "peso", e Nora (נוֹרָא) está relacionado ao temor reverencial e ao mistério.
A combinação dessas palavras no hebraico sugere que o Nome Divino não é apenas glorioso no sentido de honra, mas também carregado de um peso espiritual que transcende a compreensão humana.
Na tradição mística, o nome de D'us contém o segredo de Sua essência e da criação. A invocação deste Nome está associada ao poder criativo divino e à capacidade de influenciar a realidade física e espiritual. Isso é amplamente discutido na Cabalá, onde o Shem HaMeforash (o Nome Inefável de D’us) contém a chave para os mistérios da criação.
4. Os Bikkurim e a Noção de Tikun (Restauração Espiritual)
Outro ponto interessante de Ki Tavô é a oferta dos bikkurim (primeiros frutos), que no nível místico se conecta com o conceito cabalístico de tikun (retificação espiritual). Quando o agricultor traz os primeiros frutos da terra e os oferece a D'us, ele está, na verdade, realizando um ato de elevação das faíscas divinas presas no mundo material.
Este é um dos fundamentos do pensamento cabalístico, especialmente discutido no Zohar e nos escritos de Isaac Luria (o Ari).
Ao trazer os bikkurim, o indivíduo está corrigindo e restaurando as faíscas espirituais caídas (nitzozot) e elevando-as de volta à sua fonte divina. Isso não é apenas uma oferta física, mas um ato de redenção cósmica.
O mesmo se pode dizer sobre cada mitsvá cumprida — ela é uma forma de tikun, um processo de restauração e retificação do mundo físico, preparando-o para a revelação final na era messiânica.
5. O Juramento das Bênçãos e Maldições em Hebal e Gerizim
Por fim, a cerimônia das bênçãos e maldições realizada nos montes Gerizim e Ebal (Devarim 27:12-13) carrega uma profundidade simbólica e mística.
Sotá 37b
A Cabalá ensina que essas montanhas simbolizam a dualidade inerente ao livre-arbítrio humano: a escolha entre o bem e o mal, a luz e a escuridão. O Talmud (Sotá 37b) discute que a própria geografia dessas montanhas, com Gerizim sendo verde e fértil, enquanto Ebal é seco e estéril, reflete as energias espirituais associadas à bênção e à maldição.
Na Cabalá, essa divisão se relaciona ao equilíbrio entre as sefirot de Chesed (Bondade) e Gevurá (Julgamento). O equilíbrio entre essas duas forças é essencial para o fluxo harmonioso da energia divina no mundo. Quando Israel escolhe seguir os mandamentos, alinha-se com o lado de Chesed, recebendo bênçãos. Quando se afasta, entra no domínio de Gevurá, sofrendo as consequências de seus atos. Este é o conceito místico de Sefirat HaOmer, a contagem que reflete o equilíbrio das forças espirituais.
Conclusão
A Parashá Ki Tavô vai muito além das palavras literais. Seu hebraico revela significados místicos e espirituais que conectam a terra, o povo e D'us de uma forma que a tradução dificilmente capta completamente.
Termos como segulá, kelalá, e a importância dos bikkurim revelam uma teia profunda de espiritualidade que aponta para a redenção final através do Mashiach, quando todas as maldições serão transformadas em bênçãos e a glória do Nome Divino será plenamente revelada.
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