quarta-feira, 20 de novembro de 2024

O Judaísmo e as Alegações de Machismo – Entendendo a Tradição e suas Razões

 O Judaísmo e as Alegações de Machismo – Entendendo a Tradição e suas Razões

Por: Moreh Flávio Telles

Introdução



A percepção de que o judaísmo é "machista" frequentemente surge do desconhecimento das razões por trás de determinadas práticas e tradições. Muitas críticas são baseadas em interpretações superficiais de textos ou práticas sem o devido contexto histórico, cultural e espiritual.


 Neste estudo, abordaremos algumas dessas alegações, como a bênção na Tefilá "por não ter sido criado mulher" ( shelo asani ishá ), e explicaremos o papel das regras sociais antigas e como compreendê-las nos dias atuais.

1. A Bênção "Shelo Asani Isha"

Na oração matinal ( Birkot HaShachar ), os homens recitam uma bênção que diz:
"Baruch Atah Hashem ... shelo asani ishá" .
Esta bênção, que significa "Bendito és Tu, Hashem, que não me fez mulher", frequentemente é mal compreendida como desdenhosa ou machista.

1.1. Contexto e Significado

No judaísmo, as mulheres são isentas de várias mitzvot aseh shehazman grama (mandamentos positivos dependentes do tempo), como tefilin e talit, porque suas obrigações espirituais estão centradas no lar e na educação da próxima geração. Essa isenção reflete uma divisão de papéis e não uma hierarquia de valor.

A bênção, portanto, expressa gratidão pela maior quantidade de mitzvot obrigatórias dos homens e não uma depreciação das mulheres. O homem reconhece sua responsabilidade aumentada diante de D'us, enquanto as mulheres, igualmente valorizadas, cumprem um papel diferente.

1.2. A Bênção Feminina

As mulheres também têm uma bênção correspondente:
"Baruch Atah Hashem ... she'asani kirtzono" ("Bendito és Tu, Hashem, que me fez conforme Sua vontade").
Essa bênção celebra a conexão espiritual única das mulheres com o Criador, vista como intuitiva e inata.

2. Regras Sociais Antigas: Um Contexto Necessário

As regras sociais do judaísmo antigo foram moldadas por uma realidade histórica em que papéis distintos entre homens e mulheres garantiam a sobrevivência e continuidade do povo judeu. Por exemplo:

  • A educação dos filhos recaía prioritariamente sobre a mulher, que era vista como guardiã da espiritualidade no lar.
  • As responsabilidades públicas e militares eram, em geral, dos homens.

2.1. Relevância Atual

Embora essas regras tenham origem em um contexto específico, o judaísmo contemporâneo busca equilibrar a tradição com a modernidade. As mulheres assumem papéis significativos em comunidades, estudos e liderança, sem abandonar suas contribuições únicas no âmbito espiritual.

3. Halachá: Um Processo de Construção e Evolução

A Halachá, ou lei judaica, não é estática, mas resulta de séculos de debate e interpretação. Cada mandamento e prática reflete uma sabedoria profunda e é sujeito a ajustes contextuais.

  • Exemplo: A prática de separar homens e mulheres nas sinagogas (mechitzá). Embora pareça antiquada para alguns, ela é fundamentada na intenção de garantir foco na oração e evitar distrações.

Compreendendo o Judaísmo em sua Essência

O judaísmo enxerga homens e mulheres como complementares, não concorrentes. Textos como Provérbios 31, que exaltam a "mulher virtuosa", demonstram a reverência à feminilidade. Em hebraico, a palavra para "lar" ( bayit ) está ligada à mulher, destacando sua centralidade na vida espiritual da família.

Conclusão

Alegações de machismo no judaísmo geralmente refletem uma falta de entendimento do contexto e da profundidade espiritual das práticas judaicas. É essencial lembrar que as diferenças de papéis não representam desigualdade de valor.

O desafio atual está em transmitir esses conceitos de maneira que ressoem com a realidade contemporânea, sem abandonar a riqueza da tradição. A crítica, quando nasce do diálogo, é bem-vinda, pois permite aprofundar a compreensão e desfazer preconceitos.

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